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Considerações sobre a Ecologia

Como cristão ortodoxo, penso que todas as coisas que existem são dependentes de Deus, e toda criatura, dependente de seu Criador, está ligada a Ele como causa de sua existência: “Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez”. (João 1: 3)

Uma vez que Deus é a origem do universo, que é a criação inteira, material e espiritual, e uma vez que o efeito existe em relação à sua causa, é lógico que se as relações entre Deus e o universo não continuarem, o universo voltará ao nada do qual veio: “Todas as coisas subsistem por Ele.” (Colossenses 1:17)

Deus fez todas as coisas de acordo com seus próprios propósitos (Provérbios 16:4); além disso o valor de cada coisa depende de sua posição para o louvor do grande nome de Deus.

A criatura de Deus é muito importante:

Deus tem um propósito em sua criação; Deus não cria por diversão, mas porque ele pretende, ele quer, e eu preciso muito dizer: ele planejou criar você, eu e todo ser existente na terra, segundo seu propósito em dar a vida, e não destruir.

Qualquer quer um que destrói o ser humano ou qualquer criatura comete um ato contra a vontade divina, o Criador.

O mundo e todas as criaturas nele existentes são um tesouro infinito, um presente de amor, uma abundância, pois são criados e sustentados pelo amor de Deus, e não há separação entre o amor de Deus e o que é nascido desse amor.

Portanto, o ser criado é completamente dependente: só existe relacionado com seu Criador.

De acordo com o livro do Gênesis, Deus deu domínio ao homem, domínio sobre a terra, certamente não para ele arruinar a natureza como um tirano voraz, mas para embelezá-la e santificá-la como um sacerdote-rei.

A Ortodoxia, por sua parte, sabe que a Terra está salva. O filho de Deus, Cristo, em sua encarnação, de acordo com o ensino de São Paulo, tornou-se filho da Terra - ele se encarnou para reunir todo o universo sob uma única cabeça, tanto tudo o que está no céu como o que está na terra (Efésios 1:10).

Assim, a cosmologia cristã é inseparável da história da salvação. Jesus Cristo, em sua encarnação, ressurreição, e pela descida do Espírito Santo, operou a transfiguração potencial do universo.

Textos patrísticos e litúrgicos, seguindo diretamente a linha de São João, proclamam esta dimensão cósmica do Corpo de Cristo.

De acordo com nossa fé

Nós, como seres humanos criados por Deus, somos uma parte do cosmo, da natureza, e assim nossa salvação é parte da redenção cósmica. Não podemos separar nossa salvação do mundo, da natureza. No dia da celebração do nascimento de Jesus na terra, a Igreja canta: “Hoje as montanhas e toda a terra se regozijam com os seres humanos, pela salvação. O Céu grandemente se rejubila, os montes dançam de alegria. A criação se enche de intensa felicidade, a terra, com a humanidade, se alegra pelo nascimento do Cristo Salvador”.

Em nosso ofício litúrgico eucarístico nos referimos à criação divina dizendo: “O que é teu, do que é teu, a ti oferecemos, ó Deus. E pedimos ao Espírito Santo que transforme o pão e o vinho em algo santo, valioso por si mesmo e por sua própria finalidade. E da mesma forma fazemos com a água do batismo, e com outros sacramentos.

Assim, o mundo material e tudo que há nele, que foi criado por Deus, antes da criação do homem, a partir do nada, foi para o bem estar da espécie humana.

Devemos aprender a não ver o mundo como algo para nossas alegrias individuais. O mundo não foi criado para satisfazer nossos desejos e nossos prazeres, foi criado para um propósito maior, que é a perfeita comunhão com o Criador.

Quero encerrar com a clara visão que São Máximo, o Confessor, apresenta de como a história do homem está intimamente relacionada com a história do cosmo. Ele diz: “Deus dividiu as eras em duas classes: uma concerne à descida de Deus à Terra, e a outra à ascensão do homem e do mundo a Deus. Portanto, não somente o homem, mas também o cosmo se destina a ser inteiramente transfigurado em Cristo, a fim de entrar no Reino da Luz Divina”.

Por esta visão do cosmo, baseada na presença dinâmica de Deus na criação e na real concepção de uma profunda cooperação entre religiosos e cientistas, podemos proteger nosso mundo e salvar-nos da crise ecológica existente e futura.

Finalmente

Com grande amor e respeito, gostaria de saudar todos os participantes deste Simpósio e em especial Sua Santidade, o Patriarca Ecumênico Bartolomeu I, pedindo sua bênção para mim e para minha Arquidiocese no Brasil.

O pensamento bíblico ortodoxo tem uma visão positiva do mundo natural e de nossos corpos humanos.

Assim, em nosso entendimento a criação, inicialmente, foi vista como boa e o mundo material como digno de existir.

O mundo material deve ser usado por nós para o desenvolvimento de nossa espiritualidade e de nossas capacidades.

Também, em nossa tradição ortodoxa, temos a iconografia, através da qual podemos ver mais claramente. A natureza, a terra, os rios, as florestas, os mares, são todos ícones materiais. Estes ícones falam de modo diferente, eles se expressam sem palavras, falam diretamente à nossa consciência e nossos corações, direcionam nossas emoções, mostram a grandeza e o amor do Criador, que criou tão bem o ser humano, e deu-lhe autorização para usar estas coisas para o seu bem, e não para destruir-se, e nos faz ver além de nós mesmos e das coisas materiais.

Dom Damaskinos Mansour

Arcebispo Metropolitano

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